"Talvez seja uma
das experiências humanas e animais mais importantes. A de pedir socorro e, por
pura bondade e compreensão do outro, o socorro ser dado. Talvez valha a pena
ter nascido para que um dia mudamente se implore e mudamente se receba.
Eu já
pedi socorro. E não me foi negado.
Senti-me então como se eu fosse um tigre perigoso com uma flecha cravada na
carne, e que estivesse rondando devagar as pessoas medrosas para descobrir quem
lhe tiraria a dor. E então uma pessoa tivesse
sentido que um tigre ferido é apenas tão perigoso como uma criança. E
aproximando-se da fera, sem medo de tocá-la, tivesse arrancado com cuidado a
flecha fincada.
E o tigre? não, certas coisas nem pessoas nem
animais podem agradecer. Então eu, o tigre, dei umas voltas vagarosas em frente
à pessoa, hesitei, lambi uma das patas e depois, como não é a palavra o que tem
importância, afastei-me silenciosamente".
("Uma
Experiência", Clarice Lispector, em "A Descoberta do Mundo")