Dormi de cansaço, com meu filho mais novo nos braços.
Exaustos os dois. Foi uma noite complicada. Um sono
picadinho, eu acordando ao menor movimento que ele fazia.
Devo dizer que ele é todo diferente.
Tem crises frequentes de insônia, onde já bateu o
recorde de três dias e três noites sem dormir.
E dias de profunda depressão, sem conseguir levantar
da cama e encarar o mundo.
O nome disso é transtorno bipolar de humor e as
pessoas normalmente confundem com preguiça, ou com acomodação, ou mesmo com
fingimento.
Sabem de nada essas pessoas.
Ele ainda por cima tem epilepsia, com crises
periódicas bem fortes, tratadas com remédios igualmente fortes, que lhe deixam
com gastrite, tremor nas mãos e ultimamente com uma queda de cabelos. Ele odeia
tomar os remédios, dois de manhã e dois à noite, e as vezes faz de conta e joga
fora e as coisas pioram um bocadinho.
Isso não é mesmo bom, mas até que entendo.
Ele é meu filho e tenho por ele o maior amor desse
mundo, embora muitas vezes não consiga entrar em seu mundo hermeticamente fechado.
Foi assim desde pequeno... Ele só falou as primeiras palavras com quase cinco
anos. A gente achava que ele era mudo, mas nada disso, pra ele era apenas mais
fácil dizer com o olhar, já que nós o entendíamos e amávamos tanto. Quando
falou pela primeira vez já foi com a frase completa: "posso tomar um
suco'? :D
A primeira crise epilética foi ainda bebê, os médicos
diziam que era apenas 'convulsão de febre', mas isso não foi bem assim. E o
transtorno de humor só conseguimos diagnosticar bem mais tarde. Os dois polos
do humor se alternam e ele vive em permanente estado de alerta, com os nervos à
flor da pele, e a auto estima baixa, se achando a pior pessoa do mundo, a mais
feia, e a mais burra. Querendo morrer "porque o mundo com certeza vai
ficar melhor sem mim"...
Ele já tentou fazer isso duas vezes, se cortando e com
excesso de remédios.
Cheguei a tempo.
Os irmãos dão a maior força, mas no final é só eu e
ele. Para sempre.
Nessas horas de trevas e sofrimento, como ontem, eu só
faço dar um abraço bem apertado, coração no coração, resistindo aos seus
movimentos desencontrados pra se soltar e apertando bem, 'tou aqui, sou eu',
até que ele relaxa e eu tento levá-lo pra cama. Ele é um homem e é grande, bem
maior do que eu, mas teve um dia que carreguei como se ele fosse ainda uma
criancinha. Não sei como consegui. No dia seguinte estava dolorida e cheia de
hematomas.
Amor de mãe.
Às vezes é tudo muito difícil, mas a gente não desiste
não. Quero que ele seja feliz, que possa mostrar ao mundo como é inteligente,
bonito, amoroso e engraçado. Como é tão bom ser seu amigo. Quero que as pessoas
não julguem tanto, não virem as costas... As vezes um sorriso de entendimento,
um olho no olho, um abraço, um toquezinho de carinho nas costas, deixam ele
feliz por muitos dias e a mim também.
É tão fácil fazer isso. Custa nada, não.
E a gente aprende tanto...
Sim, é um desabafo, apenas isso. Acho que é porque
estou meio cansada e botar pra fora alivia. A vidinha aqui é uma eterna busca
de delicadezas pra manter a alegria de viver. Pra poder agradecer todo dia -
porque estamos vivos e aprendendo muito, sobre tolerância, respeito à
diferença, solidariedade.
E entendendo que sempre tem gente vivendo experiências
muito piores que a nossa. Tem gente morrendo, por exemplo.
<3
> na foto - célula de neuronio (cor de rosa), com
várias sinapses (azul). a comunicação de um neurônio pra outro se dá através da
sinapse.
6 comentários:
que post tão bonito. que cuidado e sentimentos tão bonitos.
e fortes.
você é forte.
um abraço carinhoso
Beth, querida, recebe meu abraço largo e longo, ok? (espero que a gif funcione). Beijoca também <3
http://67.media.tumblr.com/tumblr_lmon4iXcBQ1ql2jw1o1_500.gif
Helê
Beth, você é sempre tão carinhosa com todo mundo, imagino com ele.
Um abracao apertado. Pra você para ele.
<3
Postar um comentário