sábado, 30 de julho de 2016

Vinicius e Pixinguinha


















Certa vez Vinicius de Moraes conheceu um americano muito rico em Nova York, que não conseguia entender como o poeta queria voltar para o Brasil, quando podia viver muito melhor nos Estados Unidos.
Vinicius respondeu com um poema delicioso:

Olhe aqui, Mr. Buster: está muito certo
Que o Sr. tenha um apartamento em Park Avenue e uma casa em Beverly Hills ...
Um poço de petróleo trabalhando de dia para lhe dar dinheiro
e de noite para lhe dar insônia.
Está muito certo que em ambas as residências
o Sr. tenha geladeiras gigantescas...
que em suas mesas as torradas saltem nervosamente de torradeiras automáticas
e suas portas se abram com célula fotelétrica.
Está muito certo que o Sr. tenha cinema em casa para os meninos verem filme de mocinho.
Isto sem falar nos quatro aparelhos de televisão e na fabulosa hi-fi
com alto-falantes espalhados por todos os andares, inclusive nos banheiros ...

Mas me diga uma coisa, Mr. Buster
Me diga sinceramente uma coisa, Mr. Buster:
O Sr. sabe lá o que é um choro de Pixinguinha? ...


(Tirado do livro Filho de Ogun Bexiguento, de Maria T. Barbosa da Silva e Arthur L. de Oliveira Filho, que traça um perfil de Pixinguinha).


terça-feira, 26 de julho de 2016

No Dia da Vovó, você lembra da sua?




















Convivi com a minha avó do dia em que nasci até os sete anos. Fui a primeira neta e com a morte de minha mãe quando ainda era pequena, minha dinda (porque também era minha madrinha) foi a primeira mulher importante de minha vida. 
Desde que nos conhecemos foi amor à primeira vista: ela cantava pra mim, me dava banho, me fazia altos penteados.  E eu vivia seguindo seus passos por todos os lugares, xeretando, perguntando, tentando imitá-la em tudo. E ela gostava...

Com ela aprendi a fazer biscoitos, a bordar, a fazer flores de papel crepom, a comer muita beterraba pra fazer cocô cor de rosa, a escovar o cabelo 100 vezes antes de dormir pra ele ficar sedoso e brilhante, a fazer colares de flores e contas e pendurar vários no pescoço pra chamar as fadas, a criar pirilampos dentro de vidrinhos para iluminar as noites, a contar histórias que não acabavam nunca e que deixariam Sherazade no chinelo.  
Minha avó me apresentou às fadas e duendes, me ensinou sobre as salamandras e as fases da lua, me fez conhecer os insetos, os caramujos, os peixes que seduziam as meninas bonitas nas noites de luar... cantou pra mim o canto das sereias, me falou em detalhes do reino de Netuno, dos ventos e suas diferentes formas e da reunião que eles faziam todo ano pra botar a conversa em dia. 
Por causa de minha avó eu tive uma casa só minha em cima da mangueira, onde montamos uma cama fofinha, uma prateleira de livros e onde eu pude ser a princesa loura do meu próprio reino encantado.













Quando eu fiz seis anos, o presente mais lindo que ganhei foi da minha avó: um arco-íris enorme na cama, em cima de mim.  Ela amarrou um cristal com um barbante na janela, e o sol criou o arco-íris. Outros presentes que ela me deu viraram meus tesouros : dois carreteis de linha dourada, botões de madrepérola, rendas e fitas, caixinha de costura com tesoura em forma de coração e pedaços de papel de seda coloridos. E uma coleção de postais antigos, que sumiram nas minhas varias mudanças, o que me fez chorar muito.















Minha avó foi minha guru, minha guia no mundo da fantasia e do sonho, minha cúmplice. Sua morte foi brutal pra mim, demorei pra me recuperar.
Seu nome era Luiza e eu não encontrei aqui nenhum retrato dela pra mostrar a vocês. Tinha cabelos castanhos e olhos verdes e na minha mente era tão bonita, com brincos de pedra verde que balançavam quando ela andava e os vestidos estampadinhos de saia e cintura marcada. 
Tenho muitas, muitas saudades de minha dindinha.
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Hoje sou vovó e entendo um pouco esse jeito de ser. Tenho seis netos no total, cinco meninas e um menino. São pessoas pequenas tão parecidas e tão diferentes ao mesmo tempo. Todas tem meu sangue e se eu for mais fundo, tem também um pouquinho do sangue dela.
Sinto que minha função é explorar com eles esse mundo da infância, que vai ser uma base sólida pra enfrentar o mundo das pessoas grandes quando chegar a hora.

Por causa dos netinhos eu tento parecer um pouco com a minha própria vovó, não sei se chegarei perto da sua criatividade e alegria de viver. 
Mas eu bem que tento...

É um dia muito especial esse dia das vovós...


sexta-feira, 22 de julho de 2016

Cumpadi Jôni e Cumadi Jéqui











No começo dos anos sessenta, os moradores de Afogados da Ingazeira, pequeno município do sertão pernambucano, às margens do rio Pajeú, também estavam encantados com o recém eleito presidente dos Estados Unidos.
John e sua mulher, Jackie, eram como o príncipe encantado e sua princesa, tão jovens, belos e ricos, parecia que tinham saído de um dos contos de fadas que todo mundo aprendeu a amar. Eram mesmo uma belezura.

Seu Izildo e sua mulher Dedé, pequenos criadores de cabras na área rural do município, eram os mais entusiasmados. Os americanos eram quase da idade deles, bem mais bonitos e ricos, é claro, mas também tinham uma filha pequena e parecia que cuidavam da criancinha muito bem. Dedé prestava atenção nisso, porque estava grávida do seu primeiro filho.
Meses depois o menino nasceu, ganhou o nome de Jôni e Izildo teve uma ideia:
- Vou convidar o presidente e a patroa dele para serem padrinhos de nosso filho. Já pensou que honra eles desfilando em carro aberto pelas ruas de Afogados?
Pensado e feito. Com a ajuda do escrivão do cartório, escreveu uma carta bem carinhosa convidando John Kennedy e a primeira dama para batizarem Jôni na igreja matriz de Afogados da Ingazeira, em data à escolha dos padrinhos.
Na semana seguinte Izildo foi até o Consulado Americano, no Recife, e pediu para que a carta fosse entregue em mãos ao presidente Kennedy. Teve de assinar um monte de papel... Uma burocracia danada...










E depois disso, tome esperar. Passou-se uma semana, um mês, dois meses, três... e nada. Seis meses, e Dedé começou a reclamar, não gostava de ter um filho pagão em casa. Se não queria ser padrinho, custava nada mandar dizer... “Posso não, quero não”, e pronto...











Um dia, quase oito meses depois, enfim chegou a resposta. Uma carta com o carimbo da Casa Branca, assinada pelo Presidente dos Estados Unidos em pessoa! Ele dizia que seria impossível agendar uma visita ao Brasil, culpa da diplomacia... Mas que ele e Jackie se consideravam padrinhos "afetivos e morais" do menino. Quer dizer: podiam batizar o Jôni com outra pessoa, mas os padrinhos verdadeiros eram os Kennedy. 

E assim foi. Teve forró e tudo, era época de São João, diz que os convidados eram tantos que a festa durou até o dia amanhecer.
O batismo na igreja foi fotografado e a foto foi devidamente encaminhada para a Casa Branca, como lembrança “do seu afilhado Jôni".

***

Alguns meses depois, um dia chega seu Izildo todo afobado em casa e diz pra Dedé:
- Mulher, tu nem queira saber! O Cumpádi Jôni levou dois tiros e morreu!

Dedé até deixou cair o prato que lavava de tanto choque.
- Minha nossinhora!!! E agora, Izildo, o que é que vai ser da Cumádi Jéqui???

 **


PS – Essa história é contada como verdadeira por várias pessoas da cidade. Infelizmente, todos os personagens da historia já não estão mais aqui para confirmar...

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Um dia meio diferente...















Passei a tarde descalça e de vestido comprido até o chão. De manhã fui no centro cirúrgico pra marcar a minha cirurgia do outro olho, e fazia um calor quase insuportável, 29 graus com umidade relativa de 16%. Dá uma canseira, uma dor de cabeça, uma vontade de cair numa piscina...
Foi bom voltar pra casa e pisar descalça nos ladrilhos frios, os espaços quase vazios, só eu e meus gatos. 

Aproveitei e fiz um monte de coisas: lavei o cabelo com xampu novo, passei um hidratante francês muito cheiroso que alguém deixou aqui, mas não penteei. Queria muito que o cabelo ficasse cacheado, em ondas, mas isso é querer demais. Ele é liso e pesado, aceita Beth que dói menos. Depois arrumei as minhas gavetas do armário, tirei as roupas do cabide e levei pra tomar um ventinho e perder o cheiro de mofo. Separei uma porção de sapatos que preciso passar adiante, e uma bolsa vermelha espalhafatosa que não faz mais parte da minha vida. Sobrou tanto espaço lá dentro que nunca imaginei...
Hesitei bastante, mas pintei de vermelho as unhas dos pés, ficou engraçado... Na hora da fome, comi bolinhos de arroz com molho de gergelim que fiz mais cedo e uma salada de cenoura com passas. Comi com as mãos, sem usar o talher. Quando eu era pequena fazia assim com a minha avó e adorava. 
Agora vou trocar a begônia rosa do vaso, que está muito apertado pra ela e catar cada uma das lagartas que estão na palmeirinha, que ódio de lagartas. 
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Inventário da minha gaveta da mesinha de cabeceira (a de cima):
cinco lápis de grafite novos, ainda sem ponta | uma caneta hidrocor de ponta fina roxa | um coração de prata filigranada com a inscrição ‘mi amor’ | um óculos de grau sem a haste direita | duas contas de luz pagas com atraso | o livro IChing com prefácio de Jung, envolto em tecido roxo com um laço de fita dourado | dois colares de contas, um azul com medalhinhas e um amarelo e branco | um vidro de cola polar pequeno | dois vidrinhos com óleo essencial: um de lavanda e outro de patchouli | um marcador de livro metalizado em forma de rosa | seis elásticos coloridos de amarrar cabelo | um creme contra picadas de insetos e alergias | uma latinha de tictac sabor laranja bem velho e quase derretido (que joguei no lixo) | uma maquina fotográfica pequena sem o cabo de carregar a bateria | um copinho de vidro roxo com vários colares prateados. 
A gaveta é um verdadeiro ninho de ratos... Vou jogando as coisas dentro durante um tempo, mas de repente precisa mesmo arrumar.
Tem mais duas gavetas na mesinha, carregadas de coisas, não faço ideia do que está escondido ali...

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Agora já é noite e vou me preparar pra dormir. Um banho morno, camisola limpinha, chá de boldo sem açucar, o meu preferido. Vou tentar começar a ler A Amiga Genial, que todo mundo tá incensando por aí. Baixei na internet, acho que isso também ajuda a não querer ler. Não sei porque peguei a maior implicância com esse livro...
Tomara que me empolgue depois de começar.
As vezes isso acontece comigo.
Bons sonhos, pessoas...


segunda-feira, 18 de julho de 2016

Manda nudes, Rita Lee!



















Senta que lá vem historia, rsrs... Essa envolve um show da Rita Lee, no finzinho do século passado.

O ano era 1995 e a gente estava encarregada pela Prefeitura de conseguir um show arrasa quarteirão para comemorar os quatrocentos e tantos anos da cidade do Recife. Fizemos uma lista não muito longa e a escolha obvia era Rita Lee.
Rita estava com vários sucessos nas rádios, seu disco Babilônia, gravado em 1978, tinha quatro músicas nas novelas, e voltava a tocar como se fosse recém lançado. Babilônia era o quarto e ultimo disco de Rita com a banda Tutti-Frutti, um dos seus melhores discos, aliás. Puro rock setentista do grande Luis Sergio Carlini, com músicas hoje clássicas como Jardins da BabilôniaAgora é Moda, Eu e Meu Gato e Miss Brasil 2000. E Disco Voador, sua primeira composição em parceria com Roberto de Carvalho, com quem estava namorando.
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Depois do ok do contratante, fechamos o show e começamos a trabalhar. As primeiras matérias de jornal anunciando a apresentação da cantora na cidade já causaram rebuliço, e ao longo dos dias o tititi só cresceu. Os recifenses estavam ansiosos para se divertir com a Rainha do Rock brasileiro.
Ficou decidido que show ia ser ao ar livre, num palco montado num cruzamento da maior avenida do centro da cidade. Um palco enorme, para abrigar 15 pessoas, entre a cantora, sua banda e dançarinos.
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Na passagem de som, já com cenário luz e som no lugar, recebemos um recado: Rita quer conversar. E lá fomos. E ela disse que quando apresentava os garotos da banda, as meninas da plateia sempre deliravam. Então queria dar uma alegria pros meninos também. Perguntou se a gente conhecia alguma garota que topasse vestir uma capa e desfilar no palco enquanto ela cantava Miss Brasil 2000. Com um detalhe: a garota tinha de estar nua por baixo da capa, e desfilar com ela aberta no final da música. 
Tinha cachê pra moça, mas não foi uma tarefa fácil...

Os meninos da produção adoraram fazer teste de elenco com as candidatas que começaram a aparecer. Foram poucas, todas bem bonitas. A escolhida foi uma moça alta, de  enorme cabelo afro, linda, que trabalhava de modelo...
O compromisso era que ninguém soubesse de nada, pois a apresentação da moça tinha que ser uma completa surpresa... Mas não sei como, a história vazou para a imprensa e no dia do show o alvoroço já era enorme.

Na noite da apresentação, a escolhida foi levada ao camarim da Rita, para ser maquiada e penteada e em seguida vestiu a capa branca brilhante com arminho na gola. E uma linda coroa dourada na cabeça.

Começou o show, a plateia abarrotada, a gente tinha colocado dois telões nas laterais, então dava pra ver e ouvir perfeitamente de qualquer lugar da rua. Mas a galera se espremia na fila do gargarejo, só secando e no aguardo...
Rita foi desfilando seus sucessos, todo mundo cantando junto, show altamente dançante e maravilhoso... mas no ar estava um frisson. Todo mundo queria ver a Miss Brasil 2000... Aí chegou uma hora que ela começou a falar:
- E atenção meus amigos, do Brasil para todos os planetas do Sistema Solar, a grande final do show da beleza universal... A primeira Miss Brasil do século XXI... Senhoras e senhores, Miss Brasil 2000!















E veio a morena que não sei o nome, toda linda, primeiro desfilando com a capa fechada em volta do corpo, depois abrindo e surgindo gloriosamente pelada e sem vergonha... Urros na plateia, Rita Lee do lado fazendo mesuras, a banda atacando o maior rock’n’roll.
Foi demais. Catarse coletiva...
O show com maior participação de plateia que já fiz...
Pode-se dizer que nunca mais a cidade do Recife teve um aniversário tão eletrizante como esse...
:D













Duas notinhas interessantes: 
- em Porto Alegre, a Miss Brasil nua era nada menos que Adriana Calcanhotto bem novinha!!
- E no Rio, a moça escolhida era Luciana Gimenez... Até outro dia o vídeo da apresentação dela estava disponível no youtube. Agora foi retirado pelo “detentor dos direitos autorais”. 
Diz que Luciana estava em várias apresentações do show no Rio de Janeiro, inclusive naquela que Rita Lee e banda abriam para uma apresentação dos Rollings Stones... e que foi depois do show, no camarim, que ela ficou amiga do Mick Jaegger.

Mas essa do Mick eu não garanto, só ouvir dizer... 
Mesmo sem o vídeo, alguém salvou uma pequena imagem onde se pode ver Luciana coberta com a capa da Miss Brasil 2000...





quinta-feira, 14 de julho de 2016

Memorias











Há muito tempo atrás eu andava por ai. Eu e uma galera enorme que mal  se conhecia. A gente descobria o país de cima a baixo, sem destino, conhecendo pessoas, parando onde achava interessante, dormindo onde dava, conversando muito e ouvindo mais ainda. Geralmente recebia convites pra dormir na casa de alguma pessoa legal, ou trocava serviços por um cama e um banho, em qualquer cantinho se abria o saco de dormir e pronto. Deitar cedo e acordar com o sol... no meu caso, como eu quase sempre escrevia pequenos textos pra algum jornal alternativo, tinha o privilegio de dormir em pequenas pousadas, baratinhas, que pagava com minha diária estabelecida pelo contratante. 
Andei muito mesmo, de ônibus, de trem, de barco, de carona e a pé... Conheci boa parte do Brasil, do Oiapoque ao Chui como se dizia. Minhas posses iam junto comigo, numa mochila grande feita de retalhos: algumas roupas, livros, echarpes, material de higiene, um saco de dormir e só. Isso e mais o que eu vestia, inclusive as joias, era tudo o que eu tinha. E me bastava. Tinha dinheiro suficiente pro necessário, comia frugalmente e meu corpo era jovem, magro, saudável e forte. 

O mundo também era mais simples, dava pra andar por ai sem medo de violência, sem pessoas preconceituosas no caminho e principalmente sem a presença assustadora da Aids. A gente namorava e vivia em paz. Paz e Amor era o lema de todos os andarilhos. 
Aprendi muito nessa época e fui imensamente feliz. 















Depois voltei pra minha cidade, encontrei uma casa ampla e ventilada e fui morar com um amor que conheci na estrada. Tivemos dois filhos e por causa deles construí um ninho, com comida na hora, sossego e lugar bom pra dormir. Minha casa ficava na praia e a felicidade era plantar, criar as crianças e os cachorros, cantar e escrever. E se amar. A gente se separou três anos depois, eu e ele, mas ainda somos super mega grandes amigos. Amo ele, é o ótimo pai dos meus filhos e avô dos meus netos.
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Depois disso, de vez em quando recebia viajantes, pessoas tranquilas que vinham de lugares diferentes, e a minha casa virou um pouso acolhedor para os andarilhos. E eles sempre deixavam presentes - um chapéu de feltro, um pano indiano, brinquedos lindos para as crianças, pequenas joias, livros. Minha vida era normal mas bem corrida, trabalhava como freelancer para várias publicações, as crianças iam pra escola e pra creche, a gente tinha tudo que uma pequena família precisa pra viver. Nada de grana sobrando, apenas o necessário. Mas sempre dava pra receber alguém pra lembrar dos velhos tempos.
Foi muito bom. Acho que esses são meus momentos de felicidade completa guardados na memória, aqueles que o Caetano falou.













Um desses amigos me visitou mais vezes que os outros e dele eu sinto saudades. Seu nome era Enzo, o de longos cabelos, que era italiano e um doce namorado. E isso era tudo o que eu sabia dele. Nem precisava de mais nada. Enzo amava e era amado pelas minhas crianças, conseguia entretê-las por horas com magicas e origamis, era quieto e calado e com ele em casa tudo era silencio e paz.












Um dia ele aparecia, ficava uma semana e ia embora, da mesma maneira que chegou.  Meses depois voltava, ficava uma semana e sumia de novo. Até que não voltou mais. Não fui atrás, isso não estava no nosso script. Mas confesso que esperei... Por muito tempo conservei dele o ultimo presente - umas pantalonas brancas com botões nas laterais dos quadris, bem bonita, que pertenceram a algum marinheiro francês. Tinha até a etiqueta da Marine Nationale e tudo. Ele deve ter pegado num desses brechós de roupas para doação, onde tinha muitos "casacos de general"... Naquela época isso era comum demais, até mesmo no Brasil...
De vez em quando me pergunto: por onde andará o Enzo?

Alguém já me disse que ele era, na verdade, um anjo que só trouxe luz pra minha vida e eu acredito...