sábado, 30 de julho de 2016

Vinicius e Pixinguinha


















Certa vez Vinicius de Moraes conheceu um americano muito rico em Nova York, que não conseguia entender como o poeta queria voltar para o Brasil, quando podia viver muito melhor nos Estados Unidos.
Vinicius respondeu com um poema delicioso:

Olhe aqui, Mr. Buster: está muito certo
Que o Sr. tenha um apartamento em Park Avenue e uma casa em Beverly Hills ...
Um poço de petróleo trabalhando de dia para lhe dar dinheiro
e de noite para lhe dar insônia.
Está muito certo que em ambas as residências
o Sr. tenha geladeiras gigantescas...
que em suas mesas as torradas saltem nervosamente de torradeiras automáticas
e suas portas se abram com célula fotelétrica.
Está muito certo que o Sr. tenha cinema em casa para os meninos verem filme de mocinho.
Isto sem falar nos quatro aparelhos de televisão e na fabulosa hi-fi
com alto-falantes espalhados por todos os andares, inclusive nos banheiros ...

Mas me diga uma coisa, Mr. Buster
Me diga sinceramente uma coisa, Mr. Buster:
O Sr. sabe lá o que é um choro de Pixinguinha? ...


(Tirado do livro Filho de Ogun Bexiguento, de Maria T. Barbosa da Silva e Arthur L. de Oliveira Filho, que traça um perfil de Pixinguinha).


Um comentário:

Luciana Nepomuceno disse...

ele era bom nessa coisa de pergunta que puxa o tapete, né? "sabe você o que é o amor?" por exemplo, o que é quase o mesmo que "o senhor sabe lá o que é um choro de Pixinguinha?"

Vinícius é meu único amor não realizado (enquanto o Chico tá vivo, tenho esperanças).