domingo, 6 de setembro de 2015

Irremediablemente

claro que quero morrer antes de você
quem vai fazer a cena do moribundo no leito de morte
babujando as últimas palavras afogadas nas últimas lágrimas
quem vai jogar o último desejo nas suas costas
e partir para o nunca mais ver, ciao
deixando tudo para trás
contas
chaves de casa
roupas usadas
livros mofados
tênis enlameados
maços vazios
lençóis úmidos
papéis desbotados
xampus abertos
traduções incompletas
poemas falados
desenhos infantis
o prato sem lavar
o porquinho cor de rosa
as tardes frescas
a frente do mar
os lindo-azuis na varanda
o perfume da nuca nos travesseiros
o irremediável autografado da Storni
claro que quero
e antes de você
jogue fora tudo que veio e é seu
aquela sua mecha branca
os corredores do Estácio
meu muito amor
e um beijo distraído.

(Maira Parula - daqui )