Certa vez Vinicius de Moraes conheceu um americano
muito rico em Nova York, que não conseguia entender como o poeta queria
voltar para o Brasil, quando podia viver muito melhor nos Estados Unidos.
Vinicius respondeu com um poema delicioso:
Olhe aqui, Mr. Buster: está muito certo
Que o Sr. tenha um apartamento em Park Avenue e
uma casa em Beverly Hills ...
Um poço de petróleo trabalhando de dia para lhe dar
dinheiro
e de noite para lhe dar insônia.
Está muito certo que em ambas as residências
o Sr. tenha geladeiras gigantescas...
que em suas mesas as torradas saltem nervosamente
de torradeiras automáticas
e suas portas se abram com célula fotelétrica.
Está muito certo que o Sr. tenha cinema em casa
para os meninos verem filme de mocinho.
Isto sem falar nos quatro aparelhos de televisão e
na fabulosa hi-fi
com alto-falantes espalhados por todos os andares,
inclusive nos banheiros ...
Mas me diga uma coisa, Mr. Buster
Me diga sinceramente uma coisa, Mr. Buster:
O Sr. sabe lá o que é um choro de Pixinguinha? ...
(Tirado do livro Filho de Ogun
Bexiguento, de Maria T. Barbosa da Silva e Arthur L. de Oliveira
Filho, que traça um perfil de Pixinguinha).
Um comentário:
ele era bom nessa coisa de pergunta que puxa o tapete, né? "sabe você o que é o amor?" por exemplo, o que é quase o mesmo que "o senhor sabe lá o que é um choro de Pixinguinha?"
Vinícius é meu único amor não realizado (enquanto o Chico tá vivo, tenho esperanças).
Postar um comentário