Convivi com a minha avó do
dia em que nasci até os sete anos. Fui a primeira neta e com a morte de minha
mãe quando ainda era pequena, minha dinda (porque também era minha madrinha) foi a primeira mulher importante de minha vida.
Desde
que nos conhecemos foi amor à primeira vista: ela cantava pra mim, me dava banho, me fazia altos penteados. E eu vivia seguindo seus passos por
todos os lugares, xeretando, perguntando, tentando imitá-la em tudo. E ela
gostava...
Com ela aprendi a
fazer biscoitos, a bordar, a fazer flores de papel crepom, a comer muita beterraba pra
fazer cocô cor de rosa, a escovar o cabelo 100 vezes antes de dormir pra ele
ficar sedoso e brilhante, a fazer colares de flores e contas e pendurar vários
no pescoço pra chamar as fadas, a criar pirilampos dentro de vidrinhos para iluminar as noites, a contar histórias que não acabavam nunca e que
deixariam Sherazade no chinelo.
Minha avó me apresentou às fadas e duendes, me ensinou sobre as salamandras e as fases da lua, me fez conhecer os insetos, os caramujos, os peixes que seduziam as meninas bonitas nas noites de luar... cantou pra mim o canto das sereias, me falou em detalhes do reino de Netuno, dos ventos e suas diferentes formas e da reunião que eles faziam todo ano pra botar a conversa em dia.
Por causa de minha avó eu
tive uma casa só minha em cima da mangueira, onde montamos uma cama fofinha, uma
prateleira de livros e onde eu pude ser a princesa loura do meu próprio reino encantado.
Quando eu fiz seis anos, o
presente mais lindo que ganhei foi da minha avó: um arco-íris enorme na cama, em cima de
mim. Ela amarrou um cristal com um barbante na janela, e o sol criou o arco-íris. Outros presentes que ela me deu viraram meus tesouros : dois carreteis de linha dourada, botões de madrepérola,
rendas e fitas, caixinha de costura com tesoura em forma de coração e pedaços
de papel de seda coloridos. E uma coleção de postais antigos, que sumiram nas
minhas varias mudanças, o que me fez chorar muito.
Minha avó foi minha guru,
minha guia no mundo da fantasia e do sonho, minha cúmplice. Sua morte foi brutal pra mim, demorei pra me recuperar.
Seu nome era Luiza e eu
não encontrei aqui nenhum retrato dela pra mostrar a vocês. Tinha cabelos castanhos e
olhos verdes e na minha mente era tão bonita, com brincos de pedra verde que balançavam quando
ela andava e os vestidos estampadinhos de saia e cintura marcada.
Tenho muitas, muitas
saudades de minha dindinha.
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Hoje sou vovó e entendo um
pouco esse jeito de ser. Tenho seis netos no total, cinco meninas e um menino. São
pessoas pequenas tão parecidas e tão diferentes ao mesmo tempo. Todas tem meu
sangue e se eu for mais fundo, tem também um pouquinho do sangue dela.
Sinto que minha função é explorar com eles esse mundo da infância, que vai ser uma base sólida pra enfrentar o mundo das pessoas grandes quando chegar a hora.
Por causa dos netinhos eu tento parecer um pouco com a minha própria vovó, não sei se chegarei perto da sua criatividade e alegria de viver.
Mas eu bem que tento...
É um dia muito especial esse dia das vovós...
4 comentários:
Que linda homenagem a sua avó -dinda!! Eu lembro sempre da minha! Não tão prendada quanto a sua mas com certeza um doce de vó!💗💗💕
Que linda homenagem a sua avó -dinda!! Eu lembro sempre da minha! Não tão prendada quanto a sua mas com certeza um doce de vó!💗💗💕
A partir do segundo parágrafo fiquei toda arrepiada e chorei! Lindo o texto. Lindo mesmo. Bjs :)
<3 me emocionei
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