o som do mar, que me acalma e ao mesmo tempo me aterroriza.
quase morri afogada uma vez, numa praia de SP, cai num rodamoinho e não consegui sair. tinha escutado dizer que o certo era relaxar e se entregar, se deixar levar na direção do fluxo da água... mas na hora a gente só quer o chão firme e fica brigando contra aquela força descomunal que tem o mar... e quem somos nós, né?
apenas um insignificante grão de areia, feitos de poeira de estrelas, claro, mas um quase nada diante das dimensões do universo.
toda vez que entro no mar eu peço licença e rendo minhas homenagens.
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mas esse mar está dentro de mim, faz parte de minhas memórias ancestrais. seu horizonte, seu cheiro, o barulho das ondas, são a minha infância, meu aconchego, minha segurança. nem preciso ir à praia, tomar sol, nadar. só em saber que ele está ali, disponível, sinto que o mundo está na sua rota correta e que posso relaxar.
sinto saudades imensas do mar.
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o poeta ledo ivo escreveu sobre a sua relação com o mar alagoano, que parece que foi pra mim:
"quando deixei
maceió, fechei a porta do mar
e enxotei os navios que insistiam em seguir-me.
tive de aninhar o vento nos corredores
das casas brancas que guardam lacraias.
mas o mar me acompanhou até nos sonhos,
igual ao sol azul que sustenta o mormaço.
o vento veio voando e era um bando de pássaros.
a chuva da minha infância continua caindo
com o seu séquito de tanajuras e caranguejos.
até as dunas caminham ao meu encontro
e me rodeiam, exigindo que eu devolva
a chave de areia e o oceano roubado".
e enxotei os navios que insistiam em seguir-me.
tive de aninhar o vento nos corredores
das casas brancas que guardam lacraias.
mas o mar me acompanhou até nos sonhos,
igual ao sol azul que sustenta o mormaço.
o vento veio voando e era um bando de pássaros.
a chuva da minha infância continua caindo
com o seu séquito de tanajuras e caranguejos.
até as dunas caminham ao meu encontro
e me rodeiam, exigindo que eu devolva
a chave de areia e o oceano roubado".