terça-feira, 14 de junho de 2016

Agatha do surfe.




















Quando a gente pensa em Agatha Christie, imediatamente nos vêm à cabeça uma senhora simpática, de cabelos brancos e vestidos estampados fora de moda. Ou às vezes teclando na máquina de escrever algum de seus oitenta romances policiais... No máximo parecida como sua personagem Miss Marple, que faz tricô enquanto resolve crime complicados.
Sabemos uma porção de coisas sobre Agatha Christie, a autora que vendeu bilhões de livros no mundo todo, ficando atrás somente da Biblia e de Shakespeare.
Mas não sabemos de tudo.

Desde criança, Agatha Christie sempre foi uma jovem vibrante, que gostava de dançar, tocar seu bandolim junto com as amigas e andar de patins nos fins de semana. E o mais interessante: depois de adulta seu esporte preferido passou a ser o surfe!
“Não havia muitas pessoas na década de 20 e 30, em particular as mulheres, com a coragem, entusiasmo e talento para fazer o que ela fez”, disse em entrevista ao Guardian o seu neto, Matthew Prichard. “Ela era uma pessoa realmente voltada para o futuro.”















Agatha andando de patins com as amigas. Ela é a do meio


O surfe entrou em sua vida durante uma viagem ao redor do mundo que fez com o segundo marido, Archie, depois da Primeira Guerra Mundial, em fevereiro de 1922. Ela conta essa viagem em detalhes na sua autobiografia. A primeira parada foi na África do Sul, onde, no dia mesmo da chegada, viram muitos rapazes pegando onda com umas pranchas pequenas, no mar em frente ao hotel. 
Agatha e Archie foram até lá e bem que tentaram fazer igual, mas tomaram muito caldo e desistiram. Ela diz na sua autobiografia: “Surfar parece fácil, mas não é. Disse pra mim mesma que nunca mais. Fiquei muito irritada por não conseguir, mas lá dentro sabia que ia tentar de novo”.
Na Austrália e Nova Zelândia, nada de mar. Mas em seguida foram para Waikiki, no Havaí, o paraíso das grandes ondas, onde resolveram tentar de novo. Achavam que ia ser fácil, porque tinham vivido a experiência da África do Sul, mas foi um ledo engano.



No dia mesmo da chegada foram pra praia, alugaram duas pranchas e entraram no mar. O dia estava com ondas altas. A prancha era enorme, de madeira pesada, difícil de carregar. Ela conta: “deitamos na prancha e fomos remando com os braços em direção aos arrecifes, como vimos os outros fazer. E ficamos esperando a onda certa.”

A onda veio, enorme, mas era a onda errada. Archie era melhor nadador e se virou bem. Mas Agatha foi levada pro fundo numa velocidade assustadora e a prancha foi pro outro lado. Ela bateu nos arrecifes e ficou sem ar, até pensou que ia morrer... Mas conseguiu chegar na superfície, mesmo sem respiração e tendo engolido muita água. Depois de pegar a prancha, foi cuidar dos machucados.













Só que não desistiu. Contratou um surfista local para lhe dar aulas e depois de 15 dias de treino conseguiu ficar em pé na prancha, deslizando sobre as ondas. Segundo ela, foi uma grande emoção. “Que sensação de triunfo total, no dia em que me equilibrei e vim até a praia de pé sobre a minha prancha! É um dos prazeres físicos mais completos que já experimentei”.     

Com um mês de treino diário, Agatha estava craque e surfando com os maiorais da praia de Waikiki. Ela estava tão entusiasmada que comprou um maiô novo, “um maravilhoso traje de banho de lã verde esmeralda, que era o sonho de minha vida, e acho que fiquei muito bem”.





















Agatha, com o pranchão, o maiô novo e os joelhos rechonchudos...

Eles não contavam com uma coisinha, como ela escreve: “Subestimamos completamente a força do sol. Como estávamos molhados e frescos dentro d’água, não percebemos o que o sol do meio dia pode fazer”. O resultado foram muitas bolhas na pele, dores terríveis e queimaduras severas nos ombros e nos braços. “Eu tinha vergonha de descer para o jantar com a pele naquele estado. Foi muito humilhante”, confessa.

Agatha e Archie voltaram pra casa quase seis meses depois que tinham deixado a Inglaterra. Não se sabe se ela continuou surfando nas praias inglesas. Mas só pelas suas peripécias no Havaí, os pesquisadores consideram que Agatha Christie foi a primeira mulher a surfar em todo o Reino Unido.

Isso nos anos 20, hein? 


4 comentários:

Renata Lins disse...

uma mulher e tanto, tia Agatha, hein?
:)

Fernanda disse...

Jamais imaginei!

Luciana Nepomuceno disse...

que post gostoso #TeamAgatha

Anônimo disse...

Que história incnrível! Minha admiração por ela só aumenta.
Bj,
Helê