Quando a gente pensa em
Agatha Christie, imediatamente nos vêm à cabeça uma senhora simpática, de
cabelos brancos e vestidos estampados fora de moda. Ou às vezes teclando na máquina
de escrever algum de seus oitenta romances policiais... No máximo parecida como
sua personagem Miss Marple, que faz tricô enquanto resolve crime complicados.
Sabemos uma porção de
coisas sobre Agatha Christie, a autora que vendeu bilhões de livros no mundo
todo, ficando atrás somente da Biblia e de Shakespeare.
Mas não sabemos de tudo.
Desde criança, Agatha
Christie sempre foi uma jovem vibrante, que gostava de dançar, tocar seu
bandolim junto com as amigas e andar de patins nos fins de semana. E o mais
interessante: depois de adulta seu esporte preferido passou a ser o surfe!
“Não havia muitas pessoas na década de 20 e 30, em
particular as mulheres, com a coragem, entusiasmo e talento para fazer o que
ela fez”, disse em entrevista ao Guardian o seu neto, Matthew Prichard. “Ela era uma pessoa
realmente voltada para o futuro.”
Agatha andando de patins com as amigas. Ela é a do meio
O surfe entrou em sua vida durante uma viagem ao redor
do mundo que fez com o segundo marido, Archie, depois da Primeira Guerra
Mundial, em fevereiro de 1922. Ela conta essa viagem em detalhes na sua autobiografia. A primeira parada foi na África do Sul, onde, no
dia mesmo da chegada, viram muitos rapazes pegando onda com umas pranchas
pequenas, no mar em frente ao hotel.
Agatha e Archie foram até lá e bem que
tentaram fazer igual, mas tomaram muito caldo e desistiram. Ela diz na sua
autobiografia: “Surfar parece fácil, mas não é. Disse pra mim mesma que nunca
mais. Fiquei muito irritada por não conseguir, mas lá dentro sabia que ia
tentar de novo”.
Na Austrália e Nova Zelândia, nada de mar. Mas em
seguida foram para Waikiki, no Havaí, o paraíso das grandes ondas, onde
resolveram tentar de novo. Achavam que ia ser fácil, porque tinham vivido a experiência
da África do Sul, mas foi um ledo engano.
No dia mesmo da chegada foram pra praia, alugaram duas
pranchas e entraram no mar. O dia estava com ondas altas. A prancha era enorme,
de madeira pesada, difícil de carregar. Ela conta: “deitamos na prancha e fomos
remando com os braços em direção aos arrecifes, como vimos os outros fazer. E ficamos
esperando a onda certa.”
A onda veio, enorme, mas era a onda errada. Archie era melhor
nadador e se virou bem. Mas Agatha foi levada pro fundo numa velocidade
assustadora e a prancha foi pro outro lado. Ela bateu nos arrecifes e ficou sem
ar, até pensou que ia morrer... Mas conseguiu chegar na superfície, mesmo sem respiração
e tendo engolido muita água. Depois de pegar a prancha, foi cuidar dos
machucados.
Só que não desistiu. Contratou um surfista local para
lhe dar aulas e depois de 15 dias de treino conseguiu ficar em pé na prancha,
deslizando sobre as ondas. Segundo ela, foi uma grande emoção. “Que sensação de
triunfo total, no dia em que me equilibrei e vim até a praia de pé sobre a
minha prancha! É um dos prazeres físicos mais completos que já experimentei”.
Com um mês de treino diário, Agatha estava craque e
surfando com os maiorais da praia de Waikiki. Ela estava tão entusiasmada que
comprou um maiô novo, “um maravilhoso traje de banho de lã verde esmeralda, que
era o sonho de minha vida, e acho que fiquei muito bem”.
Agatha, com o pranchão, o maiô novo e os joelhos rechonchudos...
Eles não contavam com uma coisinha, como ela escreve: “Subestimamos
completamente a força do sol. Como estávamos molhados e frescos dentro d’água,
não percebemos o que o sol do meio dia pode fazer”. O resultado foram muitas
bolhas na pele, dores terríveis e queimaduras severas nos ombros e nos braços. “Eu
tinha vergonha de descer para o jantar com a pele naquele estado. Foi muito
humilhante”, confessa.
Agatha e Archie voltaram pra casa quase seis meses
depois que tinham deixado a Inglaterra. Não se sabe se ela continuou surfando nas
praias inglesas. Mas só pelas suas peripécias no Havaí, os pesquisadores
consideram que Agatha Christie foi a primeira mulher a surfar em todo o Reino
Unido.
4 comentários:
uma mulher e tanto, tia Agatha, hein?
:)
Jamais imaginei!
que post gostoso #TeamAgatha
Que história incnrível! Minha admiração por ela só aumenta.
Bj,
Helê
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