Hoje Maria Bethânia Viana
Telles Velloso, faz 70 anos. Uma das maiores artistas da nossa música, pessoa de
uma beleza, de uma profundidade, de uma expressão, que muitas vezes faz a gente
chorar sem saber porque.
Foi a primeira cantora
brasileira a vender 1 milhão de LPs, com 'Álibi', em 1978, quebrando um tabu
de que mulher não vende discos. É pequena e franzina, mas irradia uma força impressionante,
tanto que muitas vezes é descrita assim pelas pessoas: “Ela é um orixá” (Jorge
Amado). “É Iansã viva” (Nelson Motta). “É uma sacerdotisa” (Caetano Veloso). “Tem
um fogo sagrado” (Adriana Calcanhotto).
Assim é o seu magnetismo.
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Fiz só um show com ela,
nem tenho qualquer coisa pessoal pra contar não. Apenas que ela é uma espécie de
divindade para as pessoas, tanto a plateia que lota o teatro quanto os que
ficam invisíveis atrás do palco. Perto dela, ficam todos em êxtase.
Trabalhar com ela é fácil. Chega muito cedo no teatro,
umas três horas antes da apresentação. Sua irmã Nilcinha chega antes, trazendo
um pequeno container que revela um altar quando é aberto no camarim. Ali estão
as coisas dela, de sua devoção. E é no camarim que ela fica recolhida até a
hora do show. Suas necessidades são simples, umas frutas, chá, torradas, café. E
flores. Ninguém fala com ela nessa hora.
Quando acaba o show sim,
ela está alegre e descontraída, e recebe todos os fãs que vem lhe cumprimentar.
Ri, agradece, senta junto, faz fotos, conversa. Sai do teatro bem mais tarde, e
as pessoas, se pudessem, ficavam por ali também. Uma majestade, adorada por
seus súditos.
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Recolhi de várias
entrevistas, que ela deu ao longo de mais de 50 anos de carreira, frases que
nos dão uma ideia mais precisa de quem é essa mulher fascinante. Nada daquelas
informações conhecidas, tipo onde nasceu, como começou, o que todo mundo está
cansado de saber. São coisinhas miúdas pinçadas no meio de respostas diretas, e que
definem seu modo singular de ser.
ELA
- É filha de Iansã, Ogum e
Oxóssi. Suas cores são branco (que usa às segundas, quartas e sextas),
turquesa, azul-rei e vermelho.
- Quando come pipoca, derrama
sal na cabeça, ‘pra Oxóssi’. Quando bebe cerveja, espalha um pouco no chão, ‘pra
Omulu, que adora álcool’.
- É caseira, não gosta de
sair à noite, mas adora receber os amigos. Tem ciúmes das suas plantas e dos
seus animais. Não gosta de gatos, mas queria ter uma onça. Em vez disso tem
dois cachorros e uma tartaruga
- Não gosta de vatapá, mas
adora caruru e arroz com feijão
- Torce pelo Fluminense.
SUA CASA
- Mora há muitos anos na
Estrada das Canoas, em São Conrado, no Rio, em uma casa abraçada por jardins e
cachoeiras artificiais.
- Repórter que a entrevistou em casa, detalha: na entrada tem "seis facas pequenas fincadas na porta, em círculo, e uma grande no meio. Uma fita branca, uma tesoura aberta, uma estrela do mar. Mais embaixo uma nota antiga de 100 cruzeiros pregada com fita durex e uns galhos de trigo dentro de um saquinho branco preso com um prego. Além de umas plantinhas em vasos cheios dágua. Mas ela não explica o significado de jeito nenhum. "São segredos. A única arma do candomblé é o segredo".
- A casa tem uma enorme piscina, onde ela passa muitos momentos do dia.
Porque “piscina
eu amo. Desde pobre, quando piscina para mim era apenas notícia. Hoje fico
perdidamente imersa na minha piscina, turmalina, meio morna”.
- Tem também duas cachoeiras artificiais, com controle remoto para regular o jato... "Não posso viver sem isso, sou louca por água, são meus orixás em mim".
- Tem também duas cachoeiras artificiais, com controle remoto para regular o jato... "Não posso viver sem isso, sou louca por água, são meus orixás em mim".
MANIAS
- Tem muitos santos. Como foi criada na religião católica, na sua tem Santo Antonio, Senhor do Bonfim, Santa Bárbara, Nossa Senhora da Purificação, a Sagrada Família e Deus Menino.
- Tem um altar com relíquias que considera muito: um par de sandálias douradas tamanho 33, de plataforma altíssima, que foi de Carmem Miranda; um vestido de Dalva de Oliveira e seis pulseiras que ornaram os braços de Elizeth Cardoso.
- Tem coleção
de cadernos, divididos por cores. Em uns escreve ideias para shows, em outros,
os sonhos.
- Também coleciona sereias, tem mais de 50. A maior
delas, de ladrilho, decora o fundo da piscina.
- Tem medo de
sair na rua, medo de carro, de avião, mas principalmente de barata. “Tenho
tanto medo de barata que, quando morrer, quero ser cremada, só para não me
encontrar com elas lá embaixo”. Porém o medo desaparece quando está no palco,
onde sabe que é poderosa. “No palco, se aparecer uma, olho pra ela e ela já cai
dura e preta”.
- Adora
motocicletas e até uns anos atrás podia ser vista nas ruas de São Conrado
montada na sua Yamaha. Mas detesta ar condicionado.
NO PALCO
- No palco, onde costuma correr
de um lado a outro, já caiu, quebrou os pés e um joelho.
- Nos anos 70, sempre reservava
um dia em cada temporada para receber presentes do público em troca dos ingressos.
Já recebeu chicletes, caixas de uísque, livros, discos, bonecas, bibelôs,
cachorro, gato, coelho, porquinho-da-índia, perfume, doces, joias além de tudo
quanto é bebida, de Pitu a Moët & Chandon.
AMIGOS
- O melhor amigo é o irmão Caetano, com quem é "grudada desde menina". O escritor Julio Cortazar, quando viu um espetáculo com os dois no Rio, em 75, decretou: "Ele e a irmã são a mesma pessoa".
- Sempre faz uma Festa de Reis para os amigos. "É uma festa surpresa. A gente arruma os tres Reis Magos, as pastorinhas, as ciganinhas, os convidados, a orquestra, a porta estandarte, o anjo que leva a coroa, combino com as pessoas e levamos tudo, comida, bebida, presentes. Aí a gente bate na porta da casa e canta, canta, canta, até a pessoa abrir. E aí é festa até de manhã. O amigo não gasta nada e ainda se diverte. O problema é que as pessoas agora tem a mania de morar em apartamento"...
- No aniversário dela, os amigos é que ganham presentes. Ano passado foram camisetas. "Mandei imprimir várias. Numa, o título do primeiro romance que li, O Coração é um Caçador Solitário. Noutra, o final de Chão de Estrelas, 'tu pisavas nos astros distraida', sobre o quadro Noite Estrelada, de Van Gogh, que tanto me arrebata. E por aí vai"...
ENVELHECER
- Ela diz que não problema nenhum com isso. "Gosto do meu corpo, da minha cara, dos meus pés, das minhas mãos quando estou cantando. Nunca quis ser diferente do que sou. Convivo muito bem comigo, não me atrapalho em nada".
- "Meu cabelo demorou pra ficar branco e eu peço aos fotógrafos que não disfarcem, nem na capa dos discos. Também não vou fazer plástica nenhuma. Foram 70 anos pra chegar até aqui, pretendo me divertir muito e não jogar nada fora. Até a minha voz melhorou".
Mil vivas pra ela!
Parabéns, Bethania...
15 comentários:
Que delícia essas intimidades da Bethania!
Gostei tanto desse post que vou dar de presente a gente que amo.
Que maravilha de post. Lindo. Como ela. E como esse seu cantinho de histórias.
PS. Fui uma das que ela recebeu depois do show. Uma lindeza de pessoa. Gentil, generosa.
Mil vivas pra ela!
Adoraria ganhar uma das camisetas de presente.
Se sem ter história pra contar, vc conseguiu isso tudo, imagina se fosse um livro...
eheheheheheheh
Maravilhosa
Essa mulher é uma deusa. Vi um show dela muito lindo no Canecão, lá pra 2005. Ela revisitava o cancioneiro popular e cantava coisas de arrepiar, como Luar do Sertão. Saí do show meio em transe e demorei pra voltar. A gente constata que ela sempre foi especial naquele vídeo do Opinião, cantando Carcará - a força que ela já tem com apenas 17 anos, início de carreira.
Taí uma mulher que admiro.
tambem queria muito uma camiseta dessas, Claudio. na verdade queria ir na casa dela, ver a coleção de sereias, ja pensou que lindas devem ser?
amo muito a bethania, é um ser humano especial...
sem falar no palco, né, sempre com cenarios e iluminação tão lindos... e os figurinos... ah. viva a bethania, não tem igual...
<3
Taí uma mulher que admiro.
Que lindo Beth! Ela é tão especial que parece ser minha amiga. Assim como se fosse pelos astros.
Adorei seu blog de novo.
Rainha!❤
Rainha!❤
Sei de uma fofoca de sei lá, uns trinta anos atrás, contada pelo chefe de contra-regras do Teatro Guaíra, falecido há poucos meses, por sinal: ela namorava a Renata Sorrah, que não apareceu no camarim antes de um show. Fim da noite, quando ela apareceu, foi expulsa a sandaliadas =) e uma das sandálias se perdeu e os funcionários ficaram um tempinho procurando. Foi um furdunço! Eu gosto dessa história porque a humaniza um pouco, fica menos entidade.
Teu blog tá entre os meus preferidos da Central.
Adorei...
Adorei o texto! e amo Bethania, desde o primeiro show que vi, lá pelos anos 70 ou 80, no teatro do Parque em Recife. A voz, a interpretação teatral,o repertório, já mostrava então a cantora - diva que era e é. Adoro ouvi-la e ve-la! Que viva muito Bethania!
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