Tem coisas malucas que só acontecem comigo. Como por exemplo, no dia da posse do primeiro mandato de Lula.
Era réveillon de 2003, eu estava de pernas pro ar na Chapada
dos Veadeiros, curtindo o feriado merecido, quando me ligou a empresária de Djavan.
Abre um parêntese: não sou amicíssima dele, nem muito menos sou a tal. É que tinha
um escritório de produção de eventos, todo mundo sabe disso, e Djavan era um
artista com quem trabalhei muito. Fecha o parêntese.
Como eu ia dizendo, de manhã cedo ligou a empresária de Djavan, com quem estava sempre em contato.
Ele tinha sido convidado pessoalmente por Lula para a posse, assim como vários
artistas que estiveram na campanha. Ele chegaria duas da tarde em Brasilia, e precisava de um hotel e um carro à disposição. E o mais louco: precisava de uma
companhia para ir à posse. No caso: eu.
Aí foi uma correria. Imagine voltar urgente pra Brasilia, num feriado, pra encontrar um
apartamento em hotel que tivesse vaga, além de um carro com ar e motorista. A cidade, é
claro, estava lotada, principalmente os hotéis. As locadoras também. E tudo precisava ser resolvido até as duas, quando deveria pegar Djavan
no aeroporto. Vim ligando no carro mesmo, a adrenalina a mil, agendas de telefone aberta no colo, no banco, em todos os lugares. Suei, apelei pra deus e o mundo, mas consegui. Um ap no hotel mais caro da cidade, mas nessa hora foda-se o preço. E um quartinho onde dormia o segurança pra mim, também no mesmo hotel. O carro foi cedido por um
amigo, que ia ser, ele próprio, o motorista. Era fã do Djavan...
Na hora marcada fui buscar Djavan que estava excitadíssimo, como
todos nós. Lula seria nosso próximo presidente! Deixei ele no hotel e caí na real: caraca eu ia pra posse de Lula no Palácio do Planalto! E
não tinha nada pra vestir! Sem muito pensar, corri pra casa, pra vasculhar o armário, ver qual
mágica podia fazer. Tinha de usar vermelho, pensava. Mas não tinha nada vermelho no guarda roupa. Então vesti o primeiro pretinho que encontrei, com meias fumê e uma echarpe colorida. Pelo menos os scarpins eram vermelhos... A roupa mais clichê do mundo, simplória mesmo, mas tudo bem, a festa era popular, todo mundo bem à vontade.
A posse seria às 15h, no Congresso, Lula ia chegar no Planalto só lá pro fim da tarde. Mas a gente tinha sido avisado da burocracia, então saímos
do hotel às três. Djavan me apareceu na recepção todo lindo e elegante, num terno de
um tipo de seda cor de rosa escuro, quase vinho, super bem cortado, com uma
camisa marfim de gola alta. Tava um charme, chamava atenção... e ainda ficou dando voltinhas e perguntando
‘como estou?’... hahaha... sim, ele é um cara legal e a gente se dava bem.
Chegamos no Planalto, a entrada dos convidados era por trás, passando por muitas
barreiras, mas tudo foi agilizado porque Djavan é um artista querido e muito conhecido. Depois de algumas
voltas, chegamos no salão de recepções, já bem cheio. Muita gente conhecida do
meio artístico, a maioria em pé, alguns garçons com bandejas e risadas. Um clima festivo e de tensão relaxada.
E o tempo foi passando e Lula não chegava, o lance da
burocracia da posse estava demorando demais. Djavan tinha gravação no Rio no dia
seguinte bem cedo, o voo dele de volta estava marcado pras 20h, e claro que não ia dar
tempo. Então precisei entrar numa sala tipo escritório, nem sei de quem era, pegar o telefone e virar produtora de
novo. "Djavan, vôo da madrugada tá bom pra você?" E ele concordou sem nem pensar. Estava feliz... E eu fiquei nessa brincadeira um tempão, ligando, ligando, barganhando, propondo coisas, sou boa nisso... Consegui lugar num vôo da madrugada e fechei... ainda dava tempo pra ele voltar ao hotel e dar um pequeno relax, depois que saísse do palácio, nada mal Não tinha internet nem celulares
confiáveis naquela época, é bom lembrar.
Isso demorou bastante e quando voltei o Lula já estava
discursando no parlatório, no lado de fora. Uma multidão imensa ia ao delírio ali na frente, depois do alambrado. Aí
me perdi de Djavan, mas arrumei um lugarzinho do lado de dentro, e vi tudo, extasiada. Uma hora me virei, e descobri que estava quase
do lado do comandante Fidel Castro! Um homem muito alto, de roupa civil e cabelos
pintados. Fiquei emocionada, tive uma paixonite por ele e pelo Che na época da
revolução cubana, eles eram nossos heróis.
Não vi mais nenhum politico que me lembre, nenhum artista que me
alegrasse o coração. Sei que o Chico e o Gil estavam, mas não vi, era muita gente... Mas ví Brizola, outro querido, dando entrevista aos
jornalistas.
Fiquei por ali escutando, e me lembro bem da resposta que ele deu ao repórter, que perguntava se ele ia assumir a diretoria dos Correios. Ele negou, e disse mais ou menos assim:
- Só se for pra ser carteiro. Quero entregar só cartas de amor
pros brasileiros...
<3
Então, foi assim.
Isso é pra contentar um pouco o Claudio Luis, que o tempo inteiro fica me pedindo um livro...
rsrs
3 comentários:
Que história maravilhosa, Beth, meu deus! Djavan,, Fidel, Briza, Lula chegando ao poder, e você ali. E o povo fica invejando comida no feicebuque, tsc, tsc, tsc. Livro ou posts, você nos fará muito feliz se compartilhar esses momentos conosco.
Beijo grande,
Helê
Helê, veja bem se eu não tenho razão para ficar cobrando o livro. E ela ainda fica brigando comigo. eheheheheheheheh
"Tava um charme, chamava atenção... e ainda ficou dando voltinhas e perguntando ‘como estou?’... hahaha... sim, ele é um cara legal e a gente se dava bem." Deve ter sido hilário.
Cadê o livro, Beth.
eheheheheh
achei lindo o blog novo, e pode vir na pegada do que será o livro. :) vai escrevendo aqui, depois publica....
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