Sonhei muito esses dias com a mesma cena, recorrente há
anos, e encontrar essa foto na internet foi como abrir uma represa da memória e
tudo vir de vez, aos borbotões.
No sonho estou subindo essas escadas, de madeira velha e
gasta. Subo devagar porque sei que o penúltimo degrau antes de chegar em cima
faz um barulho quando se pisa sem muito cuidado: rrassginn... é um rangido
bem alto, que destoa do silencio geral que reina no ambiente.
Essa parte da casa aí em cima é meu refúgio particular e o rangido na
escada avisa que vem subindo alguma pessoa. Tenho até a impressão no sonho que
o pequeno defeito no degrau foi feito de propósito, pra garantir a minha
privacidade.
Quase sinto o cheiro da cera que vem do piso de madeira, tão
velhinho, cheio de marcas e história. Os livros em cima da cadeira fui eu quem
deixei, são diários de viagem que ainda estou lendo. Ao lado da cadeira, uma
mesa que vira escrivaninha e em cima dela mais livros e pequenos objetos, um
dos quais é um tipo de urna pequena, onde guardo flores secas roubadas de jardins alheios.
A porta dá direto no meu quarto. Ali tem a minha cama
estreita, com cortinado de princesa, uma poltrona azul de leitura com apoio
para os pés, e mais e mais livros. E um tapete gasto, que veio de alguma pessoa
querida. A luz clara e aberta vem de uma janela grande, com cortinas, que dá pra um páteo cheio de arvores com algumas frutas. Tudo é usado, tudo velhinho mas em perfeito estado. Sinto até o cheiro dos tecidos e das coisas. Testemunhas mudas de
parte de minha vida.
Muitas noites, através dos anos, fui em sonhos para esse
lugar, onde fico sozinha, mas feliz e em paz. É claro para mim que conheço cada
objeto que está no ambiente e que as memórias impregnadas em todas as coisas
me pertencem, são minhas e de mais ninguém. Mas onde fica esse lugar? Não faço
a menor ideia. Será um mundo paralelo onde presente se confunde com o passado? Lugar onde a gente tem acesso somente em sonhos e em momentos de necessidade?
Não sei.
Também não sei onde a foto foi feita, nem quem é o seu autor.
Me lembra muito vagamente algumas casas de Olinda, mas definitivamente não é
lá. E no entanto ela traduz com perfeição alguma coisa que vive dentro de mim.
Caminho por aí em sonhos há muitos anos, sempre o mesmo
lugar. Sei que sou bem vinda e estou em casa. Talvez seja um lugar de cura, um
lugar de repouso restaurador.
Mas é muito real.
Alguma de vocês já se sentiu assim?
5 comentários:
que lindo isso, Beth. eu sonho muito, mas não tenho lembrança de voltar para um mesmo lugar....
dá até certa inveja isso. :)
deve ser legal sonhar assim.
Eu sonho bastante com uma mesma mulher, em várias épocas e situações diferentes. Sempree sinto bem quando estou com ela. Independentemente da situação, sempre sinto uma paz imensa e um sentimento de amor antigo.
Eu sonho bastante com uma mesma mulher, em várias épocas e situações diferentes. Sempree sinto bem quando estou com ela. Independentemente da situação, sempre sinto uma paz imensa e um sentimento de amor antigo.
Renata, volto sempre pra esse quarto, passando pelo corredor e pela escada que range. sempre de algum jeito diferente. teve uma vez que eu recebi um homem mais velho e ele colocou uma pulseira verde no meu braço. coisa estranhissima. não tem musica, não tem som de voz, o mais completo silencio...
mas muitos cheiros.
eu tenho sonhos assim, alguns bem conhecidos de outros pesadelos...
Veronica, alguem ja me disse que sonhar com a mesma pessoa, que lhe inspira amor no sonho, é uma coisa muito boa. assim como se ela fosse um guia espiritual, né?
beijo
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